Revista Montanhas Edicao Nº 4 - Agosto 2015
Ir de táxi parece ser mais simples. Basta acenar com a mão para que um deles se aproxime. Aqui esses veículos são pretos e as portas são pintadas de amarelo. Também existe o “remis”. Di- ferentemente do táxi tradicional, o remis não têm marcação e se assemelham a um carro particular. Um número pintado de ama- relo e uma antena no porta-malas é a maneira de identificá-los. Nessa indecisão, vacilando entre uma opção e outra, passa meia hora. Logo passa uma hora, uma hora e quinze minutos... Um momento, um táxi se aproxima. Aceno. O motorista desce o vidro, me cumprimenta e pergunta: “A dónde vás?” Me cur- vo para vê-lo melhor através da janela. “Hotel Íbis”, respondo. “Guaymallen?”, pergunta. “Sí, Guaymallen!”, repito triunfante. Ele, sem mais nada dizer, abre a porta e eu entro. Sento-me ao lado do motorista. Minha bagagem fica no por- ta-malas. Saímos em silêncio. Claro, tento puxar assunto: “Qué tan caliente está aquí, no? Faz quase quarenta graus no início da tarde! “Sí, infernal...”, disse, e com isso a conversa acabou mesmo antes de ter começado. Seguimos adiante. Em menos de 15 minutos chegamos nas proximidades do hotel, próximo a uma rodovia movimentada de Mendoza, a MRN7. O taxista conduz o carro até a entrada do prédio. Uma sensação de alívio, pois estou com fome e cansado. Vejo o taxí- metro: 26 pesos argentinos. Saco 30 pesos da carteira e entrego a ele, que procura trocados em meio a moedas e notas amassa- das. “No es necessário, es para usted”, digo. Ele sorri e agradece. Me despeço com um “gracias-senõr”. Meu quarto em Mendoza consiste em uma cama e um ba- nheiro. Há uma televisão, uma cadeira próxima à janela e um espelho preso à parede. Sobre a cama, lençóis limpos e dois tra- vesseiros. A primeira parte da minha missão será passar uma noite aqui e, amanhã, comprar mantimentos para a expedição na montanha. São quatro horas da tarde. Tento compensar o cansaço da viagem com um cochilo, mas não consigo. Minhas pupilas estão minúsculas. Estou impotente para fazer qualquer outro tipo de tarefa. Fecho os olhos, mas só consigo cair num leve estupor. Fico assim até o fim da tarde. A noite amena em Mendoza concede uma atmosfera solene ao hotel quase vazio. O clima está para uma “loira” bem gelada. No térreo, junto à recepção do hotel, o restaurante é composto por cerca de dez mesas de madeira. Três delas estão ocupadas – exe- cutivos, engomadinhos, mulheres de salto alto, crianças birrentas. Normalmente não me sinto à vontade em hotéis e lugares formais, mas, como eu já estava aqui, não poderia deixar de aproveitar. Sento-me em uma cadeira e começo a ler as mensa- gens no meu celular. Na TV, presa à parede, passa alguns noticiá- rios locais – acidentes, assassinatos, prisões, política... A bartender é uma mulher de mais ou menos da minha idade. Espero ela vir até a minha mesa. Enquanto isso, um casal deu uma risada a duas mesas adiante. Volto para o meu celular, vejo que não há nenhuma mensagem. Aceno e a bartender se aproxima: “Una cer- veza”, peço empolgado. “Qual?”, questiona ela. Não há muitas opções na prateleira. Garrafas alemãs, americanas, brasileiras e argentinas fa- zem parte do cardápio: “Una Budweiser”, respondo dando um sorriso discreto. A garota volta e me traz na bandeja um copo e uma “long neck” coberta por um suor gelado. Ela pousa a bandeja sobre a mesa, cur- va-se diante de mim e enche a taça com o puro malte. Ergo o copo e dou um vasto gole. Sinto o amargo do líquido descer pela goela abaixo. Em poucos minutos, a bebida perde rapidamente a frescura e a úmida consistência. Não resisto e peço outra – uma nacional, desta vez. Quilmes? “El sabor del encuentro”, diz o rótulo. Vamos ver se é boa. Uma música se dilui em meio volume no alto-falante preso ao teto. É algo como “the green eyes...yeah the spotlight...shines upon you...” ColdPlay, minha banda favorita. Enquanto beberico minha gelada, corro os olhos para a parede e vejo uma pequena adega com tintos e brancos alcoólicos, feitos para degustar com classe. Mas não adianta querer me convencer que um Cabernet Sauvignon não irá afetar o meu bolso. Por enquanto me submeto de bom grado ao caldo espumante do fino malte. Ok, eu Cordón Del Plata A meca do montanhismo Argentino 20 | REVISTA MONTANHAS
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