Revista Montanhas Nº 3 - Outubro 2014

76 | REVISTA MONTANHAS Algumas cordas homologadas pela UIAA aguentam até 10 quedas no fator 2, em ummesmo trecho de corda. A corda pode não arrebentar mas você sim. É por isso que o guia deve colocar alguma proteção assim que sai da parada, nos primeiros 2 metros, para reduzir seu fator de queda. Escalar colocando costuras em intervalos regulares, sempre procurando reduzir o fator de queda. Apesar da segurança dada por aparelhos auto-blocantes ser normalmente estática, quando se está em dúvida quanto às proteções e queira minimizar o impacto, o assegurador pode soltar uma braçada de corda, tornando a segurança dinâmica, no exato momento do impacto. Este é um procedimento que deve ser treinado e avaliado (ex.: verificar se a braçada de corda a mais não fará com que o guia caia sobre algum bico de rocha ou platô). Em condições normais o melhor a se fazer é travar a corda no aparelho e se proteger do tranco. Para se compreender a importância do Fator de Queda, precisamos considerar também o tipo do material usado na construção da corda e do auto-seguro. As provas efetuadas em laboratório confirmam a teoria de que numa queda Fator 2, independentemente da altura envolvida, a força de impacto será a mesma - aproximadamente 9kN, com uma corda elástica (de 6% a 10% de elasticidade) e 13 kN a 18kN, ou até mais, com uma corda pouco elástica ou uma corda estática. Para se ter uma ideia do que significamestes valores, uma força de 18kN está muito próxima da resistênciamáxima de vários equipamentos de segurança. Além disso, o organismo humano suporta em uma fração de segundo um impacto máximo de 8kN. Acima disso há risco de rompimento de órgãos internos. CONSEQUÊNCIAS DE UMA QUEDA A utilização eficaz de técnicas e equipamentos, por pessoas bem treinadas e conscientes dos riscos que correm, aumenta a segurança nas atividades na natureza. Além dos traumatismos como contusões, fraturas, cortes, hemorragias, etc., causados pela queda de uma pessoa, outras consequências tão ou mais graves podem ocorrer. A utilização correta dos equipamentos de segurança minimizam os efeitos de uma queda. O equipamento deverá estar bem ajustado e confortável durante o dia de atividade para não trazer consequências de fadiga ao final do dia, as quais podem prejudicar o indivíduo que por ventura possa sofrer uma queda. Em caso de quedas o resgate deve ser urgente! A permanência de uma pessoa inerte em qualquer tipo de cinto de segurança pode causar sérios danos fisiológicos. Caso a vítima esteja consciente estes problemas não ocorrem, pois a pessoa se movimenta mudando os pontos da compressão causada pelo cinto, o que já não ocorre com a vítima inconsciente. Sérios danos circulatórios em consequência da compressão dos vasos sanguíneos podem acarretar comprometimento cerebral e até morte. Uma pessoa mesmo consciente pode ter problemas caso não seja removida rapidamente. O tempo entre a perda da consciência e o surgimento dos agravos fisiológicos é muito curto, sendo necessário atendimento rápido e eficaz. Após 4 (quatro) minutos inicia-se umprocesso de deficiência de oxigênio na circulação, chamado de hepóxia; mais 4 (quatro) minutos, inicia-se o processo de deficiência de oxigênio no cérebro, chamado de anóxia. Após estes 8 (oito) minutos, a pessoa inconsciente e suspensa emuma cadeirinha, pode entrar em choque ortoestático, já podendo ter sequelas irreversíveis. Ao retirá-la da suspensão inerte, devemos fazer retornar a circulação gradativamente, pois esta parada cria toxinas que se forem liberadas de imediato podem causar um colapso na circulação. Após o choque ortoestático, a próxima etapa é o coma, onde o coração começa a fibrilar, não retornando mais com aplicação da Reanimação Cardiopulmonar - RCP, somente com o uso de um desfibrilador elétrico aplicando choques. Ocorrências como um trauma craniano causado pela queda de um objeto, ou o impacto proveniente de uma queda da própria pessoa, uma emergência como um mal súbito causado por doenças crônicas, ou agudas, ou ainda a exaustão à atividade que exija esforços físicos excessivos, podem levar o indivíduo a ficar inconsciente e suspenso pelo cinto cadeirinha. Pensamento e atitude: “É muito mais fácil e melhor evitar uma queda que cuidar de suas conseqüências”.

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