Revista Montanhas Nº 3 - Outubro 2014
O elogio ao móvel “Por causa do perigo da queda esta disciplina exige uma forte responsabilidade e uma boa capacidade para julgar corretamente os possíveis pontos de asseguramento e as combinações de movimentos a realizar... O ator enfrenta o problema de precisar processar a maior quantidade de informações em cada posição de escalada do que em rotas asseguradas por bolts.” Wolfgang Gullich Escalar uma linha em que cada proteção dependa da exata colocação das peças, com a liberdade de decidir onde e como proteger. A escalada em móvel é exigente, mas equivalente à sua exigência também existe uma enorme recompensa àquele que se propõe ao desafio. A prática da escala esportiva tradicional não é recente no Brasil. Nos últimos anos vem se popularizando, mas em nosso país ainda é tímido o número de escaladores adeptos a essa modalidade. A escalada esportiva tradicional pode ser definida como uma escalada curta, em geral de um largo, com proteções integrais em material móvel, podendo alcançar atualmente no Brasil em termos de dificuldade técnica o grau de 9c. Um dos grandes incentivadores brasileiros desse estilo de escalada – que visitou a terra do gritstone - é Ralf Cortês. Ralf abriu e encadenou variadas vias nesse estilo – algumas em companhia dos especialistas ingleses Niel Greshan, Seb Grieve. Exemplos da evolução técnica desse estilo no Brasil são as vias: Crux Credo 8B E6* - Salinas, Mulheres exóticas 8b E7 - Niterói , Kriptonite 8c E7 - Niterói, Boiling point 8b E7 - Itatiaia, Fuzzy logic 8b E7 - Itatiaia, Os inocentes 8c E7 - Urca, Urubifa 8c E6/7 - Urca e E o Rio de Janeiro continua lindo 8a E6 - Urca. Ralf também estava tentando um grande projeto chamado Se segura malandro - cotada em 9c, após 7 tentativas e alguns pontos na perna – devido a uma queda – a via ainda espera o primeiro encadenamento. Essas informações compõem uma pequena parte da memória – ainda por ser resgatada – da escalada esportiva tradicional em nosso país. Em termos de região sul do Brasil, o setor 3 de São Luis do Purunã conta com excelentes linhas do estilo esportivo tradicional, destacando-se entre elas a estética Ajoelhou tem que rezar 8a. Atualmente a via conta com várias ascensões, mas foi aberta no ano de 2000 em artificial, nessa época o simples fato de imaginá-la sendo escalada em livre causava calafrios, não foram poucos os escaladores que retornaram de joelhos antes do primeiro crux – eu me incluo nessa lista. O setor 3 vem sendo revitalizado, nos últimos anos surgiram novas linhas e variantes privilegiando as proteções integrais em móvel em conjunto com a dificuldade técnica: Remédio para a Melancolia 9a, Conversa para boi dormir 8a, Grata surpresa 8b, Império dos Prazeres 8b. Entre as novas vias, destaca-se em minha história pessoal a Remédio para a melancolia. Nessa época, a maior parte das possibilidades de escalada do setor 3 já havia sido explorada. Depois de muita procura encontrei uma linha que, a princípio, era somente uma fantasia e aos poucos foi se tornando realidade. A primeira enfiada é de 7c com boas proteções. Já na segunda enfiada o escalador sai de uma reunião móvel, entala um pequeno stopper, e passa por alguns movimentos extremos de boulder – cotado em 9a. Ao final ainda resta um 5sup com proteções precárias. Trata-se de uma excelente via que aguarda repetições. A concretização desse projeto possibilitou o vislumbre de novos horizontes. Essas novas rotas que surgiram em São Luís do Purunã demostravam as imensas possibilidades do estilo esportivo tradicional, mas ainda faltava um local de escalada propício para a evolução da dificuldade técnica. Por coincidência nessa mesma época surgiram informações de um novo setor descoberto – em Piraí do Sul – pelo Ed, Val e William, com fendas verticais que uniam a aventura da proteção em móvel, com as variadas técnicas de entalamento. Em pouco tempo o setor do Corpo Seco já contava com várias linhas de ótima qualidade e alguns projetos que faziam a imaginação voar longe. A cada nova investida em Piraí surgiam vias mais difíceis. Foram encontrados REVISTA MONTANHAS | 59
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