Revista Montanhas Nº 3 - Outubro 2014
REVISTA MONTANHAS | 57 cessário dizer que pegamos noite no final, o que motivou o nome da via: Fissura do Por-do-Sol. Como eu tinha que voltar ao Rio no dia seguinte, foi apenas no réveillon que pude voltar ao Cipó para abrir as três vias seguintes, Dom Quixote, Rocinante e Sancho Pança, todas próximas à li- nha pioneira. A partir de então eu voltei aoMorro da Pedrei- ra e à Serra do Cipó inúmeras vezes para abrir um total de cerca de 65 vias, quase todas no Morro da Pedreira e essencialmente emmóvel, com um ou outro grampo eventual. Meu principal parcei- ro nesta empreitada foi o André Jack, alémde mi- nha ex-esposa Lúcia Duarte. Ao mesmo tempo, o Tonico, valendo-se da proximidade, também se lançou a explorar os rincões do Morro da Pedrei- ra a fundo, e com companheiros diversos, quase todos de BH, também abriu dezenas de vias em móvel por lá, algumas de grande qualidade. Pode-se dizer que estes escaladores forma- dos por nós – Jack, Júlio Cardoso, Guilherme Ko- eppel, Rodrigo Tinoco, Celsinho Gomes e outros – formaram a base de toda a escalada mineira da atualidade – descontadas algumas atividades in- cipientes do efêmero Centro Excursionista Belo Horizonte, extinto há muito na época dos fatos aqui narrados, e de um pequeno grupo em São João Del Rey, altamente dependente dos escala- dores militares que já usavam a Serra do Lenhei- ro para seus treinamentos de montanha. Tendo pouco tempo antes “descoberto” o po- tencial das vias atléticas da Parede dos Ácidos, na Urca, Rio de Janeiro, meus olhos faiscavam com as óbvias vias negativas com boas agarras nas paredes entre os sistemas de fendas e canaletas do Morro da Pedreira, que viriam, pouco depois, a integrar um dos maiores polos de escalada es- portiva do país. Mas em uma época em que os grampos eram batidos na mão, com marreta e talhadeira, eu acabava sempre dando preferên- cia a subir duas ou três novas vias em móvel por dia do que passar dois ou três dias abrindo uma com grampos. E quando as vias mais óbvias em móvel começaram a escassear, minha atenção acabou sendo desviada para outros locais, e de- morei muito tempo para voltar lá. Hoje vejo com satisfação que aquilo que aqueles que se dedicaram ao Movimento Pró- Morro da Pedreira – o movimento espontâneo de escaladores, espeleólogos e ambientalistas mineiros e cariocas pela criação da Área de Pro- teção Ambiental que impediu definitivamente o renascimento da mineradora – previam para a região se concretizou: a vegetação nativa se re- cuperou espetacularmente e o turismo, inclusive o turismo de aventura (escaladas e caminhadas), oferece muito mais e melhores oportunidades de empregos e pequenos negócios sustentáveis do que a produção de brita às custas daquele verdadeiro monumento geológico. Fábio Medina na primeira repetição da Ponto de Mutação. Foto: André Ilha
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