Revista Montanhas Nº 3 - Outubro 2014

MONTANHASALTAS, EGOALTO Temos e tivemos boas representantes na escalada esportiva, nas grandes paredes e até em vias alpinas, mas no que é chamado de alta montanha não temos ninguém que mereça destaque. Algumas foram guiadas comercialmente pelas vias normais de montanhas como Everest, Cho Oyo, Aconcágua, Denali, etc – que são basicamente caminhadas, ou sobe-se por cordas fixas e escadas de alumínio - Alta montanha é um segmento cinzento onde existe mais ego, picuinhas e marketing fajuto que realidade. No Brasil esse segmento é frequentado mais por turistas e montanhistas de academia. Para ser montanhista é preciso ter filosofia de montanhista, mas lamentavelmente não é o que vem acontecendo nas mídias impressas e televisivas. O que as mídias fazem com essas pessoas e o que essas pessoas fazem para aparecer nas mídias extrapola a filosofia e a boa convivência nas montanhas. Enfim, continuamos a torcer para aparecerem escaladoras de alta montanha de verdade, que encarem isso com determinação, muita técnica, coragem, preparo físico e filosofia de montanhista, procurando escalar por amor, e não para fazer propagandas vergonhosas. Temos as mulheres certas para fazer sucesso nessas montanhas, falta apenas um empurrãozinho. ESCALADORASDEVERDADENÃOTEMIDADE Certa vez vi uma foto no Facebook da Francine Borges, que mostrava uma mulher de costas, estava escalando. A legenda dizia “Escalando, a Mãe”. Eu pensei que era a Fran escalando uma via de sétimo grau na Serra do Cipó (MG) e que se chamava “Mãe”. Brinquei com ela por causa disso. Somentemeses depois fui saber que a escaladora eramesmo amãe da Francine! A paranaense Sueli Gomes tinha quase 50 anos quando começou a escalar em 2007, e hoje tem em seu currículo várias vias guiadas de VIIa e VIIb, na África do Sul e em Minas Gerais. Em 2012 levei um grupo de dez pessoas para escalar numa área nova que abri na Floresta da Tijuca, conhecida como O Circo. Eram bons escaladores, mas quem mais se destacou foi a Brigitte, commais de 60 anos de idade. Apesar de não guiar, ela subia muito bem vias de até sétimo grau! É muito agradável, por exemplo, ver mulheres com mais de 60 anos escalando nos muros dos ginásios ao lado dos jovens, como é o caso da Jana Menezes. Isso dá outra perspectiva à vida, como um todo, e também ao esporte. Corroborando o que eu já havia dito em outros artigos, é muito legal ver mulheres de 50, 60 e até 70 anos escalando bem, isso mostra o amadurecimento da escalada no país, inclusive com a família inteira escalando, pais e filhos. Não esqueci as quarentonas, acontece que já se tornou comum mulheres nessa faixa barbarizando nas rochas, escalando vias de nono grau e vias difíceis em grandes paredes. Acredito que está na hora de investirmos em áreas de escalada para famílias. Tenho visto isso na França, no Canadá e nos EUA, onde pequenas paredes são preparadas com vias fáceis e bem protegidas, inclusive commesas de pic-nic na base, para que as famílias possam ficar juntas. Com isso, as crianças começam a escalar mais cedo e os avós podem também praticar. Claro que sempre vai ter alguém dizendo que isso fere a filosofia do esporte e blá-blá-blá... Mas isso até o dia que esse chato se casar, ter filhos e não poder escalar porque precisa ficar com a prole. Já vi isso acontecer muitas vezes. Enfim, existem muitas áreas que podem ser transformadas em áreas de escalada familiar, quando isso acontecer poderemos dizer que socialmente a escalada realmente evoluiu. Daí a sociedade poderá enxergar a nossa atividade com outros olhos e isso pode abrir acessos para as montanhas, porque dá votos! ÚLTIMAS CONSIDERAÇÕES Podemos dividir as escaladoras em diversos grupos e subgrupos, consegui identificar alguns. Tem a turma que escala simplesmente por diversão, algo mais a fazer para fugir da rotina. Essas não tem responsabilidade nenhuma com a escalada, não procuram ler ou se informar, apenas seguem os amigos e amigas. Ou seja, são escaladoras efêmeras, desaparecem tão rápido quanto surgem. Tem o grupo das que gostam do esporte, elas se esforçam para escalar bem, mas muitas vezes apenas para poder acompanhar os amigos e os namorados, normalmente logo deixam de escalar para poder estudar ou trabalhar, ou trocam por outra atividade. Depois vem o grupo das fanáticas, no bom sentido, que leva a escalada a sério. Elas treinam bastante, trocam a vida social pela vida nas paredes ou nas montanhas, estão sempre antenadas e sabem o que está acontecendo. Porém, existe ainda um outro grupo que não aparece muito, elas trabalham nos bastidores. São as que têm a escalada como filosofia, ou uma causa a defender. Elas lutam pela escalada de diversas formas, algumas escalam bastante, outras praticamente deixaram de escalar, mas seus papéis continuam importantíssimos para a manutenção e a evolução do esporte. Elas trabalham em diversas frentes, como acesso às montanhas, organização de eventos, regulamentações, direção de associações, publicações e produções de filmes. Ou seja, são trabalhos importantíssimos, mas que normalmente não aparecem. Muitos escaladores acham que tudo isso já vem pronto, mas não é assim, esses trabalhos são permanentes e necessários, se não fosse assim certamente hoje não poderíamos escalar em muitas áreas que são importantíssimas para nós. Outro comentário que vale a pena ser feito - as escaladoras brasileiras são lindas! Escalar na Serra do Cipó (como exemplo) é um tratamento completo contra estresse, primeiro devido às vias bonitas e de alto nível, depois... Ora, parece que estamos numa passarela cheia de mulheres bonitas e perfumadas, será que isso vem primeiro nesse tratamento contra estresse? Monica Pranzl no Vale Zen, Serra do Cipó, uma veterena que nos orgulha! Raissa Dias curtindo o Corcovado carioca

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