Revista Montanhas Nº 3 - Outubro 2014

é que muitos escaladores esportivos veteranos precisam fazer curso básico, porque nunca escalaram vias com mais de 30 m de extensão. Na virada dos anos 1990 algumas brasileiras passaram a evoluir bem na escalada esportiva e nas montanhas, o que ficou conhecido como escaladora de “todo terreno”, ou melhor, escaladora completa. Um nome representativo da época era a Monica Pranzl. Um pouco depois apareceu a paranaense Roberta Nunes, que escalava muito bem vias esportivas, mas escalava melhor ainda nas montanhas. Teve êxitos excelentes na Patagônia, abriu uma via de 1.620 m (5 VIIc A2+) na Groelândia, guiou diversas ascensões difíceis nas grandes paredes dos EUA... Ela se tornou uma das representantes mais fortes neste tipo de escalada a nível internacional, mas infelizmente faleceu em 2006 em um acidente de automóvel. Até o momento nenhuma mulher no Brasil chegou a escalar no mesmo nível em montanhas, mas alguns nomes surgiram com grande potencial, como a mineira Fernanda Rocha, a paraibana Mariana Candeia, a carioca Viviane Loa, a paranaense Flora Zugaib, a catarinense Juliana Petters e a baiana Luan Krug, entre muitas outras. Quem vem se destacando nas montanhas brasileiras é a Karina Filgueiras, que não apenas guia vias em grandes paredes, mas também conquista vias sozinha (em solitário), algo inédito no Brasil. Em 2011 ela abriu na Pedra do Baú (SP) a Transbaú (5 VIIa, 280 m), e em 2012, abriu a Trágico e Sublime (7a A2 E4, 180 m) no Paredão dos Enamorados, em Itatiaia. Para quem não conhece a Karina pessoalmente, certamente vai ficar muito impressionado, porque no lugar de uma imagem fantasiosa de uma super escaladora forte, alta, com jeito de heroína adolescente dos desenhos animados... Bem, você vai ficar feliz porque ela é uma pessoa simples e natural, uma mulher madura e que tem um monte de coisas para te ensinar, entre elas; não é necessário ter aquele estereótipo midiático para ser uma tremenda escaladora, basta apenas escalar muito. Mas se as meninas quiserem ser como a Karina, alémde escalar muito, precisam ter psicológico quase igual a de uma super heroína! Temos também algumas escaladoras com grande experiência em gelo e rocha; como a paulista Bia Boucinhas, que é guia profissional veterana na Antártica e na Nova Zelândia e se sai muito bem em grandes paredes. A Mariana Candeia também acumula grande experiência em rocha e em gelo, como instrutora da National Outdoor Leadership School, com intensas atividades no Alasca, na Patagônia e outros lugares dos EUA. Algumas brasileiras começaram a se aventurar em vias alpinas, especialmente na Patagônia, mas nada que mereça destaque, ainda. Entretanto, é um bom começo, estão aprendendo a conviver melhor nesse tipo de ambiente e quebrar aquele terrível mito, de que montanhas geladas são apenas para as muito fortes. Mas não é nada disso, precisam apenas de mais seriedade e aprender as técnicas necessárias, porque nessas montanhas erros estúpidos podem ser fatais. Concluindo esta parte, existem brasileiras que escalam vias moderadas e até difíceis em montanhas, mas falta independência, precisam guiar ou ter papel de liderança. Poucas vão por conta própria. Mas isso é compreensível porque existe o fator testosterona, além de outros. As mulheres tendem para o instinto de preservar a vida ao máximo, ou seja, proteger a cria, e isso afeta diretamente o ato de se expor numa escalada. Mas se um filho estiver em perigo, instintivamente elas se transformam nas mulheres mais corajosas do mundo! REVISTA MONTANHAS | 39 Fabíola Guimarães, que parece mesmo uma estrela na via Imagem e Ação 7b, Cambotas - MG

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