Revista Montanhas Nº 3 - Outubro 2014

ASMONTANHISTAS A escalada brasileira evoluiu mesmo a partir dos anos 1980, antes disso não há muito que comentar, a não ser os acontecimentos históricos com as conquistas de montanhas e vias clássicas, feitas por alguns poucos guerreiros que se aventuravam em um terreno ainda pouco explorado. Nenhuma mulher até aqueles anos mereceu destaque, e não por culpa delas, foi devido às condições culturais e comportamentais da época. Nos anos 1980, quando as primeiras vias verticais ou ligeiramente negativas foram abertas no Rio de Janeiro e no Paraná, as mulheres simplesmente não conseguiam subir porque não tinham preparo, estavam acostumadas a escalar vias com inclinação positiva de aderência ou de agarras, onde a pressão toda ficava nos pés. No resto do país a escalada ainda estava começando ou era muito incipiente, como no RS, SC e SP. A Kátia Torres Ribeiro foi a primeira escaladora que mereceu destaque. Ela começou a escalar em 1984, aos 12 anos de idade, e aos 14 já participava da conquista da Terra de Gigantes (A4 IV), na Serra dos Órgãos. Ela guiava vias difíceis em montanhas, possuindo um longo currículo. Apareceram outros talentos nessa época, mas que desapareceram logo depois. Ou elas eram apaixonadas pela escalada e seguiam em frente, ou abandonavam caso não ligassem muito. Entretanto, depois de casar, ter filhos e ainda precisar trabalhar, mesmo as fissuradas pela escalada precisam parar ou diminuir muito o ritmo, escalar em alto nível ficava muito mais difícil, quase impossível, como foi o caso da Kátia e várias outras. Emplena explosão da escalada nos anos 1990, impulsionada pela mídia americana e europeia, as mulheres também começaram a ganhar destaque, mas muito em função das competições internacionais. Felizmente essa fase passou. Os grandes nomes da época eram Lynn Hill e Catherine Destivelle, que eram de fato atletas fantásticas e bonitas, despertando mais interesse da mídia. O mundo começou a perceber que a escalada não era uma atividade tão bruta assim. Daí em diante a adesão das mulheres aumentou graças ao segmento esportivo. Uma década depois Hill, Catherine e algumas outras deixaram as competições de lado e foram para as montanhas subir grandes paredes, elas influenciaram muito o mundo da escalada feminina, até no Brasil. Em1994 a Lynn Hill quebrou barreira ao escalar em livre a via The Nose, no Yosemite (EUA), cotada em Xc, que até então era feita em artificial (5.9 C2), algo que os melhores da época tentavam mais não conseguiam porque os dedos dos homens não entravam nas fendas. A Catherine Destivelle também foi subir grandes paredeseessepareceserumcaminhonatural paraasgrandes escaladoras, procurama verdadeira escalada nasmontanhas, mas sem deixar de se divertir nas falésias. Hoje eu fico meio chocado quando ouço as meninas que somente escalam vias esportivas, desdenhar das vias longas, falando até com certo desprezo. Possivelmente elas enxergam o mundo da escalada de forma muito reduzida. Podem também estar acompanhando pessoas inexperientes, escalar por 5 ou 10 anos as mesmas vias não desenvolve muita experiência, não é mesmo? Ou será o medo do desconhecido? Se estão aprendendo errado, aqui vai uma correção: vias esportivas não são somente vias curtas e difíceis, são apenas vias bem protegidas no padrão E1 e E2 que podem ser fáceis ou difíceis (vai depender do nível de cada um), e podem ter 10, 100 ou 1.000 metros de extensão. Existem vias esportivas nas montanhas! Lembrando que para subir essas escaladas é preciso saber fazer rapel e aprender cerca de 5 nós diferentes, além de alguns outros procedimentos. A verdade 38 | REVISTA MONTANHAS Bianca Castro em sua primeira cadena da via Sinos de Aldebaran 7b/c, Serra do Cipó - MG

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