Revista Montanhas Nº 3 - Outubro 2014

A única fonte segura que achei para comprovar em número, tal evolução, é o livro de registro de entradas do Morro da Babilônia, guardado pela Cia. Bondinho do Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro. A tabela a seguir mostra que em 2003 ocorreram 802 entradas femininas para escalar as vias do Morro da Babilônia, e em 2012 o total subiu para 1.574 registros. Isso mostra que em uma década o número de escaladoras dobrou. Entretanto, o universo delas também expandiu, houve umaumento de 18%para 20,5%emrelação ao total, que inclui os homens. Embora esses dados retratem a realidade da cidade Rio de Janeiro, não deve ser muito diferente nos estados onde a escalada é mais desenvolvida. Registro anual de entradas noMorro daBabilônia. Nos ginásios de escalada da cidade do Rio de Janeiro cerca de 25% dos usuários são mulheres, mas essa taxa deve se repetir na escalada esportiva. Se extrapolarmos esses dados para o resto do país, podemos estimar que o universo de escaladoras ativas deve ficar entre 3.000 e 4.000 praticantes. Amaior concentração fica na escalada esportiva, diminuindo bastante nas vias de grande parede. Tem ainda algumas praticantes nos segmentos de escalada alpina e de alta montanha, mas com um montante muito reduzido. AEXPANSÃODAESCALADAFEMININA Você sabe muito bem que a sociedade moderna, de uma forma geral, evoluiu no sentido da emancipação das mulheres, embora haja polêmicas sobre isso. Mas o fato é que no início da evolução da escalada no Brasil e no mundo, a porcentagemdemulheres nessa atividade era baixíssimo, a adesão foi aumentando muito lentamente devido a diversos fatores sociais e exposição na mídia. Entretanto, a principal causa desse aumento foi a própria evolução da escalada, que teve a década de 1980 como marco divisório. Como já foi dito no artigo“A evolução do jeito que você ainda não sabia” (publicado na 2º edição da Revista Montanhas), nas décadas antecedentes a de 1980 não existia no Brasil a divisão entre escalada esportiva, escalada de grandes paredes e escalada de blocos, era uma coisa só, a maioria formavam grupos para as montanhas, subir “paredões” no melhor sentido da aventura, ou seja, era ralação mesmo e demorava-se muito, o que tornava pouco atrativo para as mulheres. Usávamos os blocos apenas como treinamento de técnicas, hoje é considerado como um tipo de escalada à parte. A evolução da escalada esportiva nos anos 1980 e 1990, que em geral queria dizer escaladas muito bem protegidas com caminhadas de acesso tranquilas, facilitou a aglomeração de pessoas numa mesma área e a escalada tornou-se uma atividade mais sociável. Isso é o suficiente para explicar o aumento das mulheres nessa atividade, embora tenha ocorrido interesse das meninas pelos esportes de uma forma geral, lembro da época que surf era coisa de homem e elas ficavamna areia se bronzeando. Hoje é diferente, elas surfam também, o problema é que para surfar nos picos é preciso sair no tapa com outros surfistas para disputar ondas. A escalada é umesportemuitomais desenvolvido socialmente que o surf, por isso tem porcentual de participação feminina bem maior. Você não acredita? Vá a qualquer praia no Brasil e conte quantas mulheres estão surfando, depois faça o mesmo num pico de escalada. AESCALADAESPORTIVA A escalada esportiva nos anos 1980 e 1990 era genericamente e erroneamente conhecida como falésia. Existiam em todo o país poucas vias, nada era fácil e as pessoas iam praticamente o ano inteiro para o mesmo lugar. Repetiamas mesmas vias 30, 50, 100 vezes, e era comumnão conseguirem completar uma via inteira. Isso não podia ser considerado como evolução, era malhação com decoração, ou seja, a escalada esportiva naquela época era muito entediante, a maioria parava de escalar após poucos anos 36 | REVISTA MONTANHAS Carolina Marteletto se divertindo com Crianças Encapetadas 7a, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro

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