Revista Montanhas Nº 2 Janeiro de 2014
62 | REVISTA MONTANHAS Half Dome (2694m) Q ue escalador nunca sonhou em subir este ícone de Yosemite? O Half Dome está lá imponente ao fundo do vale convidando a ser escalado. A logística é a mais simples possível, uma vez que você tem acesso a toda a infra-estrutu- ra do parque, com lojinhas, lanchonetes, banheiros, etc. Porém prepare-se para um dia bem longo e comece realmente cedo. A entrada no parque custa 20 dólares por carro e é válida por 7 dias, portanto guarde seu recibo! A aproximação para o Half Dome se inicia na John Muir Trail por terreno asfaltado pela primeira hora de caminhada. Em seguida a trilha já de terra segue muito bemmar- cada por boa parte do trajeto. Depois de mais ou menos 3 horas de caminhada deve-se sair da trilha principal a esquerda, e seguir por terreno exclusivo aos escaladores. O cami- nho não é óbvio e bem extenuante. Uma errada aqui e perde-se facilmente uma ou duas horas na trilha, o que pode ser decisivo na sua escalada mais pra frente. Durante toda a viagem usamos o guia SUPERTOPO pra informações e croquis. Tome como referência sempre os tempos máximos de caminhada dos guias, mesmo já aclimatados e cami- nhando bem, em nenhum momento baixamos esses tempos. No dia da escalada partimos logo cedo de Curry Village e levamos 6 horas para per- correr os 8,5km de trilha até a base da parede. A via que escolhemos foi a Snake Dike, classificada como 5.7R, ou seja um 4º grau de grande exposição. A escalada realmente não exige muito e segue por uma linha óbvia de cristais, com alguns lances delicados de aderência. Nas primeiras enfiadas existe a possibilidade de algumas colocações em móvel e da 3º em diante praticamente não há mais proteções além das paradas duplas com uma chapeleta entre paradas, ou seja, há esticões de 25m entre proteções em lances de 3º e 4º grau. Dá pra cair? Até dá, mas melhor não né! Como o Half Dome é um enorme capacete, a via vai ficando cada vez mais positiva e não tem um final muito bem definido. De acordo com o guia, a via tem 8 enfiadas, mas nada lhe impede que você a escale em 5, 6, 7 ou 10 enfiadas; só depende de você sentir- se confortável em guardar a corda, trocar as sapatilhas por tênis e caminhar o restante até o topo. E que caminhada! Pela frente você ainda enfrentará quase 1km de rampão de pedra até o cume, prepare suas panturrilhas pois elas vão queimar! A vista do vale lá de cima é algo indescritível e chegar na beiradinha da parede dá um aperto no peito, são mais de 1000m verticais até a vila. A descida é feita pelos cabos de aço usados pelos turistas que fazem o hike até o cume, limitado a 300 pessoas por dia. De acordo com as regras do parque, há neces- sidade de se tirar um “permit” para subir o Half Dome pelos cabos, porém para escalar pela via, não é preciso tal permissão. Prepare-se para uma longa caminhada, pois são aproximadamente 15km descendo de volta até a vila. Volto a dizer, apesar da via muito fácil, não subestime a montanha; são 8,5km de aproximação, 8 enfiadas de 4º grau, 1km de rampa até o cume e mais 15km de volta até a vila. A não ser que você seja um super atleta, qualquer ser humano normal, acabará o dia bem cansado, portanto prepare-se; água, comida, headlamp, agasalhos e anorak devem estar na mochila. Experiência S em pressa ou pressão por grau, num esquema totalmente de diversão, “ climb4fun” , esses 20 dias de viagem passaram como num fim de semana prolongado. Foram mais de 4000 km de estradas, 4 cumes maravilhosos, centenas de km de trilhas pelas montanhas e muitos “bagels with creamcheese”. Cada lance, cada visual, cada detalhes, vão ficar na memória pra sempre. Para nós montanhistas, viajar é a base, escalar é o meio, e o cume o destino. Tradicional ou esportiva? 5º ou 9º grau? Quem se importa? O que vale é o resultado! Muita diversão, uma aula de montanhismo e baterias renovadas para o trabalho. A cabeça já preparando a do ano que vem para as agulhas de Chamonix, aguardem numa próxima edição! Marco Nalon olhando para o vale na ponta do Half Dome - Foto Alê Silva Rota de descida do Half Dome pelos cabos fixos - Foto Alê Silva Marco Nalon e Alê Silva no cume do Mt. Whitney
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