Revista Montanhas Nº 2 Janeiro de 2014
REVISTA MONTANHAS | 35 Q uando abrimos esta rota, em junho 2011, achávamos que era algo muito futurista, muito difícil. Na realidade não conseguíamos sair do chão e as proteções nunca eram muito boas, foi então que o Val, Alessandro e o Élcio começaram a dar os primeiros tentos na via, até que no fim do ano passado o Ed me ligou e falou que tava na pilha para mandar a via. Me prontifiquei e passamos vários dias por lá, estudando todas possibilidades, proteções, desvendando todo o quebra-cabeça até ele conseguir a cadena: foi muito maneiro e comemoramos muito. Desde então sempre me lembrava desta via, das suas proteções, da dificuldade eme perguntava se era possível encadena-lá. Chegou o dia, depois de algumas men- sagens, conversa por facebook, acerta- mos a trip com o Val, Alessandro, Élcio, e o Ítalo. Nos encontramos na base do morro e após um curto bate papo subi- mos para base da via. A idéia era armar um top, experimentar a via e isolar seus movimentos. Após aquele bate papo e tiração de sarro normal na base da via, o Alessandro entrou guiando, subiu aos trancos e barrancos, daquele jeito que todos embaixo já estavam assustados, e com muita pressão o convencemos a fazer o teto e deixar uma corda fixa para malharmos nosso projeto. Com a corda vinda de cima a pressão sumiu e começamos a isolar suas sequências de crux, cada um à sua maneira, até chegar à melhor forma possível e podermos sonhar com a cadena. Tiramos as peças, puxamos a corda do top e deixamos apenas uma corda fixa que seria usada para tirar fotos e para rapelarmos quando o escalador caísse. Mas aí meu amigo... a história mudou. Todos já estávamos cansados do dia, cada um com sua desculpa. E quem vai entrar guiando? Me prontifiquei e comecei a ajeitar tudo, parecia sentir o peso do mundo no corpo, uma tensão, e lá fui parede acima. Fiz as primeiras proteções e no primeiro crux fui literalmente ejetado! Para mim, a via estava dividida num boulder bem chato que havia decidido não proteger para economizar energia, dois crux fortes na seqüência, uma parte tensa sem muita proteção, um crux para chegar no teto e de presente ainda o próprio teto, que facilmente pode tirar tua cadena. Desci, e foi o Alessandro: protegeu, passou o primeiro crux mas no segundo caiu. Por fim encerramos as atividades de sábado; enquanto o pessoal ficou ajeitando seu acampamento eu e o Ítalo partimos para Ponta Grossa. Retornamos no domingo com nossas companheiras fiéis, e o pessoal já estava na parede, o Val tirando fotos e o Élcio descendo do primeiro pega do dia, en- quanto conversávamos e saía ummate, o Alessandro se arrumou e entrou na via, pareceu fácil vê-lo escalar, pas- sou por todos os crux e só parou umpouco embaixo do teto, virou-o sólido e as portas da via estavam abertas! Acendeu a luz da senha três (rsrs) e num piscar de olhos foi o Val parede acima: errou um pé, escorregou e desceu; muitos detalhes e a via não permitia erros. Comecei a ajeitar as peças e ainda sentia o cansaço do dia anterior, às vezes passava na minha cabeça que era cedo para estar ali, pois estávamos no final de no- vembro e só havia treinado durante um mês e meio, achava que não tinha a força necessária. Mas com toda a tensão fui novamente: coloquei aquele friend 0.3 e já estava no crux novamente, não sei o que fiz de errado e para não cair consegui um entalamento de indicador, subo esbaforido, mas não passei do se- gundo crux. Descansamos, jogamos mais conversa fora, e como é bom aquele bate papo na base da via... a hora passa e você nem percebe. Nisso o Élcio se arruma e vai pro seu segundo pega: começa muito bem, passa pelo primeiro crux, passa o segundo justo e vai embora pa- rede acima, mais uma cadena, a segunda do dia. Eu e o Val demos mais um pega e cada um cai novamente, começamos sentir o cansaço e a pressão da via.
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