Revista Montanhas Nº 2 Janeiro de 2014

REVISTA MONTANHAS | 27 S ubir uma montanha de altitude requer boas estratégias e isso cabe a você se conhecer (novamente através da experiência) para saber seu limite. Você precisará fazer uma boa média entre agilidade x conforto, ou seja, conseguirá ir mais rápido se for leve, mas indo leve terá bemmenos conforto. Agilidade é tudo na montanha, assim como conforto também, mas é impossível ter os dois ao mesmo tempo. O dia do ataque final ao cume é um dia muito importante. Ele sem- pre deve ser feito de madrugada, para chegar cedo ao topo. Isso porque as manhãs sempre tem uma estabilidade maior do tempo e à tarde o calor irá derreter a neve o que poderá propiciar tempestades e avalanches. Não é nada fácil acordar antes do sol nascer e vencer o frio da madrugada. Po- rém, ver o sol nascer de um lugar alto é quase um sinônimo de cume (sem falar que é uma experiência inesquecível). Nunca faça um cume em hora avançada e não se esqueça que o topo é apenas metade do caminho, você terá que voltar tudo depois. Guarde energia para isso. E ste é o ponto crucial e que mais faz as pessoas desistirem. Monta- nha de altitude tem uma beleza que assusta e quem não está acos- tumado desiste fácil. Contribuem para isso as notícias que chegam até nós sobre as altas montanhas, sempre carregadas de tragédias. Estas notícias não deixam de ser verdadeiras, mas muitas vezes precisa- mos aprender a não dar ouvidos aos nossos pensamentos que estão muito influenciados por elas. Sei que isso não é fácil e acordar de madrugada para fazer um cume contribui para isso. Enfrentar o frio e a escuridão é temerário, mergulhamos em nossos pensamentos e o desconhecido nos faz sempre fazer tudo errado. Entretanto é só ver o espetáculo do sol nascer para todos os pensamentos negativos irem embora e continuar adiante. Não é sempre que sol brilha para a gente e isso contribui muito para a piora de nossos pensamentos. As vezes acontece de ficarmos dias na barraca encurralados por uma tempestade. O marasmo e a incerteza toma conta da gente e aí somos presas fáceis para a angústia. Não há remédio para isso, apenas a esperança. Muita gente aproveita a calmaria depois da tempestade para descer. Faça o contrário, suba até o cume. Ficar esperando na barraca nos faz pensar e é por isso que a gente acaba desistindo, novamente aquilo que disse antes: Não dê ouvidos à seus pensamentos. No entanto aproveite a chance para se conhecer. Leve um caderno e um lápis e escreva. Se isso não for seu talento, leve um livro e leia, de preferência um livro motivador, senão você terá apenas a cara barbuda e suja do seu companheiro para ver e a embalagem da sua comida liofilizada para ler. Um outro fator que pesa para a desistência é a saudades de casa. É in- crível, passamos horas, dias pensando no momento em que vamos viver a liberdade das montanhas, mas basta chegar lá e, principalmente, dar algo errado, para que a gente fique com saudades de casa, da mulher, do ca- chorro, de cenas triviais do dia a dia, como tomar um café no final de tarde com pessoas que a gente gosta. Se isso acontece contigo, que bom! Sinal que você tem bons motivos para voltar. Avalie suas condições e sempre tenha como meta seu retorno com segurança. A s montanhas são lugares lindos que nos fazem voltar a viver como crianças, brincando a procura de boas aventuras, mas elas só são completas se tiverem um final feliz e pudermos voltar para casa e contar nossa experiência, de preferência com sucesso, que é chegar no topo. Controle seu emocional, escale por prazer, sem o peso de ter que voltar com o cume, aprenda com seus erros e o erro dos outros. Leia bastante, escreva, domine seus medos, aprenda a vencer, nem que para isso seja necessário aprender a desistir. Não se ensina a ter sucesso nas montanhas, pelo menos não tão rá- pido e de forma teórica. O importante é saber que as montanhas sempre estarão lá e que, como montanhistas, somos cidadãos do mundo e não nos limitamos às fronteiras do homem. Então mesmo se não der certo na primeira vez, numa segunda chance você terá mais experiência e saberá o que fazer para dar certo. O sucesso de uma escalada em alta montanha é o resultado de conhecer a si próprio e assim superar seus próprios limites. Estratégia Psicológico Concluindo Pedro Hauck Sajama- Bolívia Foto Maximo Kausch Pedro Hauck Cerro Tronador - Argentina Foto Maximo Kausch

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