Revista Montanhas Nº 2 Janeiro de 2014
26 | REVISTA MONTANHAS P rimeiramente eu reconheço dois perfis de brasileiros que vão aos An- des. O primeiro é do cara que já faz montanhismo por aqui e após bastante tempo e muitas economias vai para os Andes para conhecer o gelo e seguir sua progressão natural. Geralmente a pessoa que tem este perfil acaba indo aos Andes sem nenhuma estrutura, seja porque não tem dinheiro, ou porque, como montanhista, prefere fazer tudo por conta própria. Não tenho nada contra fazer montanhismo pelos próprios meios. Eu mesmo sempre escalei assim, porém ao se tratar de montanhas de altitude num ambiente bem diferente do nosso, as dificuldades são outras e lidar com a novidade não é fácil até mesmo para quem já está acostumado a carregar peso nas costas e caminhar longos quilômetros montanha acima. O outro perfil é bem diferente do primeiro. São de pessoas que não tem experiência nenhuma, mas sonham em subir uma montanha alta. Eles aca- bam contratando agências e vão com boa estrutura, porém, a total falta de experiência pesa muito para que o cume se torne algo alcançável. Vejo que o que falta para as pessoas no primeiro perfil é o que sobra nas do segundo e vice versa. A falta de experiência, o treinamento específico, é um grande limitante para quem não está acostumado a fazer montanhismo. Gente que treina em academia, correndo 10 km em 40 minutos todos os dias podem não conse- guir andar como um montanhista que pratica sua “caminhadinha” nos finais de semana. Isso ocorre porque o montanhista é acostumado a fazer exercício pesado 10 horas num dia, dormir, acordar e andar de novo 10, 12 horas no outro. Correr uma hora por dia te dá preparo cardiorrespiratório, mas não dá a resistência que só fazer montanhismo te pode dar. Praticar montanhismo no Brasil te ajudará bem mais do que apenas fisi- camente. Estar habituado a montar e desmontar acampamentos rapidamen- te, saber cozinhar com poucos recursos e apreciar estas gororobas, conseguir dormir e descansar em situações que para a maioria da população é descon- fortável e transformar isso em algo delicioso é o que vai te botar no cume de uma montanha, principalmente se ela for longa, ou seja, se você estiver acostumado a viver na montanha por um período de tempo longo. Tudo isso pode ser adquirido na Mantiqueira, Serra do Mar e em outras montanhas de nosso país. Por outro lado, gente que anda muito bem pode deixar de fazer uma montanha porque tem uma bota ruim, está com uma roupa não apropriada, uma luva que não aquece e não isola nada ou simplesmente porque não tem a perícia de andar direito no gelo, de saber derreter neve, de saber se aclima- tar, coisas que não aprendemos por aqui, mas que tendo um guia, podemos aprender mais rápido do que fazendo sozinho. Ou seja, se você está indo para os Andes pela primeira vez adquira expe- riência no Brasil subindo nossas montanhas, fazendo travessias, carregando peso nas costas, cozinhando, se acostumando com a comida de montanha, a falta de conforto e a lidar com os imprevistos. Se você já está habituado com tudo isso, tente juntar um pouco mais de dinheiro e vá melhor equipado e com uma estrutura melhor, de repente deixando de ser turrão e aprendendo com um guia de montanha as diferenças entre as nossas e as montanhas dos Andes, que são muitas. F azer com que seu corpo se adapte às condições de pressão da alti- tude é uma coisa séria e há tanto a se falar sobre ela que daria para escrever um livro. Até hoje a ciência não conseguiu explicar direito como a aclimatação funciona no organismo humano, pois há gente que se adapta bem e outras que nunca se adaptam. O Brasil é um país com altitude baixas, então se você não sabe como seu corpo reage na altitude reserve um tempo para isso. Não adianta ir para a altitude se você não tem tempo para escalar. Se este for seu caso, prefira escalar montanhas com menos de 3 mil metros. M ontanha de altitude sempre tem temperaturas baixas, mui- to mais baixas que na Mantiqueira ou na Serra gaúcha. Não adianta querer usar os mesmos equipamentos que você usa aqui, nos Andes. Sacos de dormir bons são essenciais, pois uma noite mal dormida é um dia seguinte ruim e motivo para desistência. Geralmente o brasileiro não tem boa resistência ao frio então prepare-se. Primeiros passos Aclimatação Frio Waldemar Niclevicz Nevado Cachi - Argentina Foto: Pedro Hauck Waldemar Niclevicz Nevado Cachi- Argentina Foto: Pedro Hauck Pedro Hauck - Sajama- Bolívia Foto Maximo Kausch
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